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  • Foto do escritorPalavra Bordada

Por que contar a história da minha família?

Atualizado: 2 de abr. de 2023




Certa vez, li um romance chamado “Domingo” de autoria de Ana Lis Soares. Aquela leitura tocou profundamente meu coração, por vários motivos, mas principalmente pelas lembranças de convivência com minha família na infância, que o texto suscitou.


Domingo é dia de família. Lembro de ir à casa da minha avó e observar a movimentação das mulheres na cozinha preparando a salada de batata (prato típico de domingo no Rio Grande do Sul); do pão caseiro assando no forno; do copo de caipirinha que passava de mão em mão; tudo isso embalado ao som de discos em alemão, que a dinda colocava para escutarmos. Estes são pequenos exemplos de boas lembranças que as famílias podem nos trazer.


Quais são as suas lembranças? E não importa que tipo de família você teve na infância. Se os almoços de domingo eram simples ou requintados; se vocês eram pobres ou ricos; se o local dos encontros era um casarão, um sítio, um apartamento ou um casebre simples. O que, de fato, importa é que as lembranças existem e elas foram criadas na convivência com sua família.



Reconectar-se ao passado

Quarto escuro com iluminação entrando por uma janela. A luz reflete uma poeira no ar.

Leia a cena descrita a seguir, extraída do livro que mencionei há pouco: ... Albertina no sótão, mergulhada na nostalgia, na solidão de reviver outros tempos (melhores, sempre melhores aqueles que não existem mais). Ali, pode chorar sem pudores ao reler cartas de irmãos distantes, ao acariciar os rostos severos dos pais em antigas e raras fotografias. Remexendo nas caixas organizadas cronologicamente, reconecta-se ao passado por documentos, por tantos registros que acompanham a família Rezende Albuquerque desde meados do século XIX. (pág. 83)


Contar histórias de famílias é uma oportunidade de reconectar-se ao passado, é trazer à tona lembranças felizes e queridas (como as que apresentei anteriormente). Mas, é também uma oportunidade de olhar para as dificuldades enfrentadas e ver desafios superados ou entender os motivos pelos quais agimos de determinada forma.



Viajar no tempo

Trago aqui outro trecho de “Domingo” que apresenta mais um bom motivo: O sótão não serve apenas como depósito de tralhas, Sofia aprendeu naquela madrugada. Na verdade, é a máquina de viajar no tempo de Albertina. (pág. 83)


Pessoa sentada de pernas cruzadas em uma cama, só é possível ver a parte inferior das pernas e pés. A frente dela, sobre a cama, estão fotos variadas.

Quão poderosa é esta afirmação! Outro dia, por um motivo que não vem ao caso, peguei álbuns de fotos de viagens de férias que fiz com minha família e, literalmente, viajei no tempo, relembrando momentos maravilhosos, engraçados, tensos… memórias… Somos feitos de memórias.


A cena do livro descreve um momento nostálgico, talvez até triste, da personagem Albertina. Eu, por outro lado, revivi episódios felizes ao olhar os álbuns de fotografias. Mas, certamente, ambas viajamos no tempo por alguns instantes.



Criar pequenas tradições

Cada família cria suas próprias tradições, que por vezes são elaboradas, outras bem simples, mas o fato é que elas existem. A minha, por exemplo, tinha a tradição de, na noite da véspera de Natal, primeiro ir ao culto, depois abrir os presentes e, por fim, partilhar a ceia. Quando criança, a parte que mais me interessava, obviamente, era a dos presentes. Eu ficava ansiosa esperando ouvir meu nome ser chamado e curiosa para saber o que havia dentro dos pacotes. Como foram bons aqueles momentos!

Pessoas o redor de uma mesa fazendo um brinde. Remete à festas de final de ano. Só é possível ver as mãos e as taças. Sobre a mesa estão pratos, copos, velas, comidas variadas e temperos.

Um outro exemplo de pequenas tradições familiares pode ser visto no trecho a seguir, também trazido do livro “Domingo”: Um a um, a família vai se sentando nos mesmos lugares de sempre, como se fosse combinado: quando foi que esse “sempre” começou? Como são criadas as pequenas tradições silenciosas, hábitos que fazem sombra fresca, sombra familiar? (pág. 104)


Quais são as tradições da sua família? Quais pequenos gestos, ações ou até mesmo palavras foram criados na sua família?



A memória é costureira

Quando li esta frase, ainda no livro “Domingo”, logo pensei: nossa, que coisa mais verdadeira! A memória costura nossas vidas e vai criando um tecido único, exclusivo, feito por nós e para nós.


E a frase “A memória é costureira” se conecta diretamente com o nosso nome – Palavra Bordada – cuja origem está na tradição portuguesa dos Lenços dos Namorados que tinham um bordado típico da região do Minho, em Portugal.


Nosso propósito é justamente o de registrar as memórias costuradas, para que se mantenham vivas e perenes ao longo dos tempos. É isso que nos move, é isso que gostamos de fazer: ouvir relatos, pesquisar documentos, selecionar fotos e redigir textos que contam as lindas histórias e memórias das famílias.



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